Sala Principal #3: Aula Magna – A reitoria do palco
A arquitectura não deixa margem para dúvidas. A Aula Magna foi construída durante o Estado Novo, para servir os grandes eventos da universidade. “Disposta em anfiteatro, foi concebida para que os espectadores pudessem assistir de frente ao desfile do cortejo académico, que, descendo do Salão Nobre pela escadaria, faz entrada pela enorme porta dourada”, explica a página oficial da Universidade de Lisboa à qual a sala está umbilicalmente ligada.
O projeto de Daciano da Costa, cujo ateliê em nome próprio aqui teve a sua primeira obra, incluiu mobiliário, a conceção do tecto em gesso, assim como elementos de luz e acústica. Porém, começou a ser projetada praticamente desde os primeiros estudos de Pardal Monteiro ainda na década de 40. A actual fisionomia e lotação, de cerca de 1600 lugares, devem-se ao arquitecto, que viria a concluir a obra.
Porém, a utilização da Aula Magna deixou de ser apenas académica e ganhou uma nova dimensão: a de sala de espectáculo, uma das mais carismáticas de Lisboa, assim como de outros eventos de cariz científico e institucional, podendo receber diferentes tipologias de acontecimentos. A música e os concertos são provavelmente os mais mediáticos e reconhecidos, quer pela indústria, quer pelo público.
Em décadas, por ali passaram os maiores nomes nacionais. Gravaram-se álbuns ao vivo de Mão Morta, UHF e Tito Paris. Registaram-se concertos memoráveis de dEUS, Magnetic Fields, Lamb, Divine Comedy, The xx ou Florence + The Machine. Mais recentemente de Sharon Van Etten, José González ou Einstürzende Neubauten, depois de um período considerável de programação intermitente. Quando a cidade era servida por menos salas do que agora, a Aula Magna era uma rampa quase infalível de lançamento de artistas emergentes, como alguns dos citados. Não raras vezes, o Coliseu ou lugares cimeiros de grandes festivais eram a etapa seguinte, assinalada por “um concerto memorável” na Aula Magna.
Os espaços ajudam a fazer os artistas e esta é uma das salas mais carismáticas e próximas na relação entre palco e plateia. Por vezes, difícil mesmo é prender o rabo à cadeira quando o assunto é rock’n’roll endiabrado.
Há concertos diferentes dos outros, que ajudam a contar a história das salas. O tempo é um relógio incessante e a história é um acerto de contas permanente entre a memória e o devir. Noites como as de 19 e 20 de novembro, quando Fausto reviver o clássico Por Este Rio Acima, prometem ser históricas. A procura de bilhetes que obrigou a abrir uma segunda data em poucos dias, também ela esgotada num pestanejar, diz-nos que este barco está de saída. Como sempre, como dantes.
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