Cuidado com as imitaçōes – Inteligência Artificial
Os efeitos da Inteligência Artificial ainda são uma ínfima parte, mas desengane-se quem pensa poder parar o vento com as mãos. O icebergue é demasiado grande para ser removido. A IA veio para ficar, já está a mudar as nossas vidas e vai mudá-la drasticamente.
Quanto ao quê, esclarecidos. Agora a questão é como. Um utilizador criou uma canção com as vozes de The Weeknd e Drake, e Heart On My Sleeve chegou, em uma semana, aos 600 mil streams no Spotify, 275 mil no YouTube, e, pasme-se, 15 milhōes (!) no TikTok. Até ser detectada e removida, mas o rasto ficou. O exemplo também?
Timbaland, um dos comandantes do hip-hop ao longo dos últimos 25 anos, “ressuscitou” Notorious B.I.G. através de uma voz gerada por IA. E para se ter ideia das proporçōes da história, o inefável Liam Gallagher deu parecer favorável a AISIS, um álbum fictício dos Oasis, gerado através desta tecnologia. Para quem gostava de ter vivido nos anos 60, é a suprema ironia.
Bem-vindos à era da pós-verdade. A história da humanidade diz-nos que a ética é antídoto pouco eficaz, sobretudo quando impera a autodeterminação individual sobre o interesse colectivo. O controlo e a restrição terāo efeitos preventivos?
Já se percebeu que nunca como antes o homem vai depender da máquina. Será o último prego no caixão da humanidade? É cedo para dizer. Como sempre, o mais estimulante reside nas clareiras e não nas florestas. Nas zonas cinzentas entre a história e o devir. A reconstrução e não a repetição. A manipulação pode trazer uma terceira via, comparável na forma à cultura do sample, massificada a uma escala inaudita. O que, se pensarmos, nas 120 mil cançōes carregadas diariamente para as plataformas digitais pode ser um processo tão natural como a reciclagem. E quem sabe se daqui não sairá uma nova forma de arte?
A única certeza, para já, é a imprevisibilidade do futuro. 80% medo, 20% de excitação