Festivais para gente adulta
Brian Molko, o andrógino líder dos Placebo, tem 49 anos. Peter Murphy, o carismático barítono dos Bauhaus, 64. Mike Scott, o “lunático” dos Waterboys, 63. E Manel Cruz, o Capitão Romance dos Ornatos Violeta, caminha para os 48. A idade é apenas um número mas este quarteto pré e pós-cinquentão espelha uma mudança de paradigma na música popular, sobretudo na cultura rock, que começa pelos seus protagonistas e se reflecte em quem a consome.
A história do rock, na segunda metade do Séc. XX, está ligada à juventude inquieta, a movimentos contra-culturais como o hippie ou o punk, a transgressões, subversões, drogas, sexo e outros excessos. O clube dos 27 está cheio de ícones do rock – Jimi Hendrix, Jim Morrison, e Kurt Cobain para citar os mais sonantes. Vítimas do excesso, e da desistência que perderam a vida para o mito. É já neste século que encontramos uma transformação geracional, explicável não apenas pela longevidade de bandas e figuras de diferentes épocas, sobretudo dos anos 80 para cá, como também pelos hábitos de consumo do público. Não é preciso recuar muitos anos para rever imagens de concertos rock com muita juventude, em que os séniores eram os pais dos filhos. Hoje, passa-se o contrário. Mais de vinte e cinco anos de festivais regulares e de uma presença de salas portuguesas cada vez mais assídua no circuito mundial de concertos teria que produzir os seus efeitos, a juntar ao amadurecimento da cultura rock.
Aqui chegados, e defronte de um contexto de segmentação cada vez maior, ei-los. Os festivais dirigidos não a quem procura a novidade, o último grito, ou o êxito pop do verão, mas a quem se abastece emocionalmente na memória. O EDP Vilar de Mouros é o caso mais evidente de revisionismo. Pelo retrovisor, vêem-se nomes como Bauhaus e Gary Numan (anos 80), Placebo, Suede e Limp Bizkit (90), Wolfmother e Hoobastank (2000), Battles (2010) e o intemporal Iggy Pop, de diferentes épocas, géneros e feitos, mas todos com uma carga histórica representativa das respectivas épocas. A juntar a estes, Legendary Tiger Man e Tara Perdida somam-lhe um cunho nacional, porque este fenómeno também sucede em Portugal.
Vilar de Mouros, o primeiro festival português de sempre, em 1971, com edições posteriores em 1982 e 1996 a escreverem a pré-história da cultura de festivais, celebra-se a si mesmo ao privilegiar a nostalgia de bandas e nomes que independentemente da sua relevância na actualidade, construíram património e compromisso com o(s) público(s). De 25 a 27 de agosto, no Alto Minho, o tempo volta para trás.
No caso do North Music Festival, na Alfândega do Porto, o espaço da nostalgia é alternado mas além do regresso dos Ornatos Violeta para celebrar 30 anos de carreira, quase a jogar em casa, o terceiro dia do festival que decorre de 26 a 28 de maio é dominado por veteranos. Desde logo, pelo Rock In Rio Douro dos GNR, banda-estandarte da cidade e da Pronúncia do Norte. Há mais, com os eternos Waterboys de Mike Scott, a banda do clássico The Whole of the Moon, e os Jesus & Mary Chain, nome charneira do rock alternativo ruidoso dos anos 80, em momento de celebração dos 35 anos do clássico Darklands, enquanto preparam um novo longa-duração.
Ainda pelo Norte, a noite de 10 de junho no NOS Primavera Sound tem como figuras de proa os regressados Pavement, pináculos do rock alternativo da década de 90, e Beck, também ele um resistente à passagem do tempo, assumido diferentes fases, vestes sonoras e chapéus. A 11 de junho, espaço para outra banda cabecilha dos anos 90: os sónicos Dinosaur Jr.
Espalhados por outros festivais, 2022 é o ano do regresso dos Da Weasel aos palcos, mais de dez anos após a separação, no NOS Alive, e dos Delfins, no Rock In Rio. No EDP CoolJazz, encontramos, por exemplo, Paul Anka e Jorge Ben Jor, enquanto nos Jardins do Marquês há presenças anunciadas de Beach Boys e Marisa Monte.
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