Os estreantes mais aguardados em festivais
Dizia o máximo matador de área Mário Jardel que um clássico é um clássico e vice-versa. Uma LaPalissada nunca fez mal a ninguém. Seguindo a mesma ordem de ideias, uma primeira vez é sempre uma estreia. É verdade que, nos últimos anos, e sobretudo com a democratização a acontecer de festivais e concertos, abriram-se novas portas, caminhos e circuitos. Isto para dizer que, ao contrário do que acontecia num passado não muito passado distante, hoje quase todos passam por Portugal. Mas todos os anos restam uns últimos moicanos por pisar pela primeira vez este chão. Alguns novos, outros veteranos. Destacamos quatro no verão e um no inverno.
Wu-Tang (Super Bock Super Rock)
Já podia ter acontecido antes no Primavera Sound portuense. A ponte aérea com Espanha não chegou a levantar voo mas algum dia teria de ser. 14 de julho é a data de estreia em Portugal para um dos mais históricos colectivos do hip-hop, e que ainda hoje move influēncia como é notório no colectivo Griselda. O produtor RZA e os rappers GZA, Method Man, Raekwon, Ghostface Killah, Inspectah Deck, U-God, Masta Killa e Ol ‘Dirty Bastard representam não apenas um grupo mas uma forma de estar perigosa e vivida no hip-hop com fumo, drogas, sexo, caves e beats orgânicos. Para quem não conhece os arquitectos, os Wu-Tang são uma página de história. Para quem está a par, é um visto em falta na memória ocular. No Meco, vão ainda estrear-se 070 Shake, Steve Lacy e Nile Rodgers com os Chic.
NxWorries (Primavera Sound)
Este ano, o Primavera Sound tem um cartaz polarizado nas letras grandes. As segundas linhas não têm a força habitual, mas não quer dizer que a natureza do Parque da Cidade esteja morta. De todo. De alguns estreantes, o duo dinâmico formado por Anderson.Paak e Knwledge é o mais aguardado, até porque um segundo álbum está a bater à porta. Quando Yes Lawd! chegou em 2016 Anderson.Paak e Knxwledge eram um segredo bem guardado, mesmo para quem ja seguia o primeiro do excelente Malibu. Paak entretanto gravou com Bruno Mars, enquanto o produtor continuou a produzir para tudo e todos, e editou 1988 a título inidividual. Tambêm se estreiam no festival nomes como Rema e Tokischa.
Lil Nas X e Lizzo (NOS Alive)
O regresso dos Red Hot Chili Pepper é a única data já esgotada dos maiores festivais portugueses mas as novidades do NOS Alive estão na noite “Gen-Z” de 7 de julho. Não uma mas duas com as estreia de Lil Nas X e Lizzo. Duas figuras provenientes de regiōes diferentes da família negra, embora representativas de uma mesma ideia de inclusão e combate ao preconceito. Lil Nas X através de uma identidade gay assumida, e incomum no espectro do trap e hip-hop digital, em que continua a reinar a masculinidade, e Lizzo através do corpo e da feminilidade – a letra de Juice fala por si.
Domi & JD Beck (Paredes de Coura)
Jazz e TikTok? Heresia. Ou talvez não. A francesa Domi Louna e o americano JD Beck têm escola prática no jazz. Têm estudos e foi nesse contexto que se conheceram. A partir daí, usaram as ferramentas ao dispor. Começaram por criar vídeos, de versōes e não só. Descobertos na Internet, foi um ápice até produzirem para Anderson.Paak e Bruno Mars, ou trabalharem com Thundercat. No ano passado, gravaram o álbum Not Tight para a Blue Note e é essa a âncora do concerto em Paredes de Coura. Festival onde também se estreia o produtor não ortodoxo de hip-hop Kenny Beats, que, para se ter uma ideia, produziu Crawler dos Idles.
Metro Boomin (Sudoeste)
Future, Young Thug, The Weeknd, Drake, Kanye West, Gucci Mane, Migos ou 21 Savage. Há alguém para quem Metro Boomin não tenha produzido? Acontece que nem todos os produtores vivem exilados no estúdio e Metro Boomin, já com mixtapes e álbuns no ficheiro como Heroes & Villains do final do ano passado, preparou um espectáculo à altura da parada de estrelas de que se costuma rodear. Uma nave elevada sobre o palco, rodeada de aparato luminoso, de forma a gerar a provocar um efeito de grandiosidade próprio do meio. Em Coachella, trouxe The Weeknd e Future. E no Sudoeste?
Makaya McCraven (Misty Fest)
Baterista, cresceu entre o jazz e o hip-hop e é um dos obreiros de atitude renovada no jazz de abertura a outras linguagens que não é nova – pensemos em alguém como Herbie Hancock – mas há muito nāo se ouvia. Nos EUA, só Kamasi Washington é comparável em influência transformadora. Makaya McCraven estreia-se em Portugal no Misty Fest com um ciclo de álbuns portentosos a precedê-lo: não só In These Times, do ano passado, mas também Universal Beings (2018), a reconstrução de We’re New Again de Gil-Scott Heron (We’re New Again: A Reimagining by Makaya McCraven, de 2020), ou a interpretação de catálogo da Blue Note em Deciphering The Message.