Concertos com História: Sudoeste 98
Dos que estão no parque de campismo do Sudoeste, levante o braço quem já era nascido em 98. Ninguém.
Um adulto nascido em 1998 tem agora 24 ou 25 anos. A idade de muitos progenitores nesse verão quente de Mundial em França e fundação da Google. Talvez esses bebés tenham sido concebidos ao som dos Portishead, Silence 4 ou Placebo. Terá sido um coito sensual, inocente ou acelerado? Depende do rádio do carro.
Alguém se lembra que no último dia de festival, os três P (Portishead, PJ Harvey, Placebo) tiveram de subir ao palco antes dos Silence 4 por causa dos voos? Se os S4 já eram um fenómeno inesperado de vendas, o Sudoeste foi um trampolim ainda maior na noite em que David Fonseca viu os seus heróis ceder o horário nobre por imperativos logísticos.
Quando se fala do “velho Sudoeste”, “alternativo” e da “da música”, 98 é o barómetro. The Cure, Sonic Youth, Yo La Tengo, Ratos de Porão depois de Sérgio Godinho, Therapy (quem se recorda?), Fun Lovin’ Criminals e a eucaristia dominical com Portishead, PJ Harvey e Placebo. Para padrōes actuais de ruído mediático, pode parecer pouco. Para a época, era um banquete.
Porém, é preciso recordar que o mapa de festivais era bem mais despido. Já havia Super Bock Super Rock, mas não havia Alive. Nem Primavera Sound ou Rock In Rio. E Paredes de Coura estava ainda a começar a ter programação internacional. Vilar de Mouros era uma incerteza (voltaria em 99 depois de um primeiro reacendimento em 96) e sobretudo não havia a fragmentação, multiplicação e descentralização de agora. Hoje, o que é difícil é respirar de tanta informação. Na altura, complicado era arranjar assunto. O Sudoeste 98 foi tema nacional. E faz parte da memória colectiva até hoje. Quem não se lembra da Elsa? O nome-mascote do festival vem daí.
O Sudoeste era o festival dos adolescentes e jovens adultos de finais de 90, dispostos a comer a pó. Iam pela música, encantavam-se pelo canal, descobriam a costa alentejana, até então um paraíso surfista de Milfontes a Sagres. E pouco mais.
A conclusão? O festival mudou, sim. Reposionou-se, mas sobretudo porque topografia de festivais e o gosto adolescente também mudaram. Os pais dos adolescentes de 98 também achavam que o rock já tinha morrido e os Doors é que eram.