Dez concertos para ver no Super Bock em Stock

 

O festival mais aconchegado da cidade está aí. E pela primeira vez desde 2019, sem restrições. Avenida abaixo, Liberdade acima, há 50 concertos divididos por 10 salas para ver nos dias 25 e 26. Muitas promessas, artistas portugueses acarinhados, e um acontecimento dentro do acontecimento que já é o Super Bock em Stock. Difícil só escolher, mas nós ajudamos.

 

Ana Moura (25 de novembro no Capitólio às 00h00)

 

Por todos os motivos, um concerto à parte. As portas da Casa Guilhermina abriram há uma semana e não é coisa para menos. Ana Moura, a artista com números mais altos de vendas na última década, e uma das mais acarinhadas do público, mudou. Não sabotou o fado, até canta a Estranha Forma de Vida, mas despiu o xaile. Ainda é fado, mas não é só fado. É romance com a portugalidade africanizada e com figuras como Pedro da Linha, Pedro Mafama e Conan Osiris. É sobretudo um grito de independência. O primeiro concerto do álbum é no Super Bock em Stock.

 

David Bruno e convidados (25 de novembro no Coliseu às 22h50)

 

Imediatamente antes de Ana Moura, o olheiro da portugalidade, speaker da Volta à Portugal em personagens apresenta a áudio-novela Sangue e Mármore, e tudo o que ficou do que passou, com convidados. É inimaginável uma noite sem Mike El Nite (I-Na-Tel) ou Gisela João (Sandra Isabel, Sandra Isabel). E o empreiteiro Rui Reininho? O Homem do Robe do Conjunto Corona? Haverá shots de hidromel? Garrafões de vinho traçado? É com ou sem contribuinte? Com António Banderas e o guitarrista Marco Duarte, certamente. Tem-te na mão David Bruno.

 

Ela Minus (25 de novembro no Coliseu à 01h00)

 

No inaugural Acts of Rebellion, a colombiana Ela Minus trouxe agitação política para os domínios da música electrónica de dança. Gabriela Jimeno recorre a máquinas, mas recusa computadores no acto de criar. Talvez por isso, escape à normalização das formas, apesar das pistas conhecidas de alguma electrónica berlinense, onde está radicada. Mas o sangue latino que lhe corre é quente e o resultado é punk, intenso, e até invulgarmente fervoroso para a corrente minimalista. Uma estreia desejada em Portugal.

 

Juçara Marçal (26 de novembro na Casa do Alentejo às 19h45)

 

Juçara Marçal catalisa a angústia histórica da diáspora dos afro-brasileiros para fertilizar um disco de grande fervor rítmico, sem fronteiras a prendê-lo. Blues, samba e rap são parte de um grande rio unido quer pela segregação racial, quer pela forma como estas músicas uniram comunidades e geraram partilha através do canto, da roda, ou do improviso. Escolhido por várias publicações como o melhor álbum brasileiro de 2021, merece a aclamação e é mais uma peça-chave de um país artístico em ruptura com a acefalia governamental.

 

Kady (26 de novembro no Cinema São Jorge às 19h20)

 

Kady estudou nos EUA e a influência afroamericana dominava o longínquo álbum de estreia Kaminho, mas a kizomba consciente Diz Só, escrita por Dino D’Santiago e Kalaf, apresentada no Festival da Canção deu-lhe um novo fôlego. O renascimento é consumado em Lumenara (significa fogueira em crioulo, EP de cinco cançōes que faz da memória cultural de Cabo Verde a argamassa do futuro. Se Rosalia tivesse nascido na Cidade da Praia, talvez trouxesse esta areia nos pés.

 

Obongjayar (26 de novembro às 20h45 no Capitólio)

 

Depois de alguns EP promissores e colaboraçōes como a de Point and Kill com Little Simz, o álbum inaugural de Obongjayar, Some Nights I Dream of Doors, é uma belíssima peça de nomadismo por entre culturas ligadas à afrodescendência como a soul, o rap e o afro-beat. Nigeriano radicado em Londres, é um excelente exemplo do pan-africanismo sublimado em canção livre de difícil catalogação.

 

Papillon (26 de novembro às 20h00 no Capitólio)

 

Bem antes de os Grognation anunciarem o fim, já Papillon se tinha emancipado do grupo que o projectou, sem o ter abandonado. Produzido por Slow J, Deepak Looper (2018) mune-se da linguagem plural e disponível de The Art of Slowing Down para atribuir um corpo musical aos textos conscientes e existencialistas de Rui Pereira. De então para cá, distribuiu singles e participaçōes. Esta semana, deu a conhecer a curta-metragem Jony Driver com sete novas cançōes. No dia 22, chegará um novo álbum.

 

Porridge Radio (26 de novembro às 20h45 no Coliseu)

 

São praticantes de um pós-punk seco e agreste, herdado de bandas como as Au Pairs. As Porridge Radio são uma banda de quatro mulheres de Brighton. Quando a bolha de novo rock inglês (Idles, Fontaines D.C, Black Midi, Yard Act), elas já por lá andavam a confrontar o instituído. E se Every Bad (2020) foi o álbum da afirmação, o novo Waterslide, Diving Board, Ladder to the Sky é o da depuração. Mas não há motivo para alarme, a sujidade continua lá.

 

Sudan Archives (26 de novembro às 23h45 no Capitólio)

 

Caso raro de reinvenção em tempos recentes, Natural Brown Prom Queen, o segundo álbum de Sudan Archives, editado em setembro, não renega a instrumentista de treino clássico, mas onde o inaugural Athena era contido, o regresso é um manifesto exterior sobre ser-se negra na América, desde a história ao momento actual. Uma das boas surpresas da temporada em estreia em Portugal, depois de uma primeira vez cancelada em Paredes de Coura devido à pandemia.

 

They Hate Change (25 de novembro no Capitólio às 20h15)

 

Banda com mau feitio esta. Será hip-hop? Punk? Drum’n’bass? Footwork? Hardcore? Talvez um pouco de todos estes ingredientes. A mistura diz-nos, para todos os efeitos, que os They Hate Change são tudo menos ortodoxos. No quarto álbum, o mais elogiado do seu percurso, o extremismo é polvilhado com sentido de humor e auto-crítica. Nada disto é a brincar, mas não é preciso levá-los tão a sério. Não é só um concerto, é um teste aos limites. Da tensão, do ruído e, quem sabe, da compreensão. Haverá resposta para isto tudo? Sim, é a vida.

 

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