O primeiro festival do resto das nossas vidas

Por: Davide Pinheiro

Agora não há como voltar atrás. Os festivais estão de regresso para nos devolver a emoção. E o primeiro está já aí. Após dois adiamentos, o ID No Limits vai mesmo acontecer de 24 a 26 de fevereiro no Centro de Congressos do Estoril. É caso para exclamar: finalmente! E dar pulos, dançar e suar até o corpo permitir. Quem sabe até, deixar cair uma lágrima de comoção. Foram dois penosos anos de adiamentos, dúvidas, ansiedades, esperanças e novos adiamentos. Por fim, há luz no fundo do túnel. Um charco no deserto atravessado por músicos, promotores, agentes e técnicos ao longo de 24 infindáveis meses. Uma indústria posta à prova perante o mais complicado de todos os testes à sua resistência: o palco vazio.

Agora, é tempo de relaxar os músculos e celebrar. Estão de volta os festivais com propostas internacionais, daqueles que nos obrigam a fazer o trabalho de casa e pesquisar no YouTube ou no Spotify, para decidir em caso de dúvida. O programa é generoso e as propostas diversificadas; a indicação é para avançar em direcção a um festival deambulante entre a electrónica, o hip-hop e o jazz, sem demasiadas restrições identitárias. No Limits, literalmente.

É um cartaz de apelo melómano, este, atento a novas tendências globais e também locais. Nem faz sentido pensar festivais de outra forma, mesmo aqueles que fazem parte de um circuito internacional como este. Por isso, na primeira noite coexistem a dupla atacante de produtores da linha da frente do hip-hop, formada pelo especialista em remisturas Mr. Carmack, e pelo membro da conceituada editora Soulection, Jarreau Vandal, conhecido pelos sets libertinos, com Nenny, um dos maiores abalos da música portuguesa dos últimos anos (e ainda nem um álbum tem!), o rap português da nova escola de Yuri NR5, e a lírica retorcida de L-Ali – o futuro é agora e este tridente é parte de uma nova geração reformuladora da música portuguesa – mais inclusiva, autónoma e digital.

E se falamos de uma nova portugalidade, então David Bruno e Rita Vian são obrigatórios. Ele, partindo do universo do hip-hop para atravessar os caminhos de Portugal, de Rio Tinto à Beira-Alta a Trás-os-Montes, cada vez escrevendo cartas de amor, onde antas havia gargalhadas. Ela reinventado o fado com camadas de electrónica, em nome de uma escrita sentida e vivida. O chão que pisa são os versos na ponta dos dedos.

Sem esquecer Mynda Guevara, voz armada de balas verbais, representante de um rap feminino português em franco crescimento; Stckman, um piloto a viajar entre o house e o r&b, faminto de matar a fome de novos sons, formas e tons, o produtor Fumaxa, com ligações a Julinho KSD e Richie Campbell – The City Is a Jungle une os três em single –, o canto de sereia pixelizada de Evaya, e a DJ Chunga Daddy.

Querem uma última dica para a noite do regresso tão ansiado? A londrina Lex Amor, uma artista independente da cabeça à ponta dos pés, detentora de grande maturidade lírica, autora do audaz e dinâmico Government Tropicana. Música para sacudir o corpo, agitar a cabeça e espantar espíritos.

Se o primeiro dia é de reencontros e mil abraços por dar, no segundo o passado já tem tudo para ser um país distante. Importa o momento e esse acontece ali, à frente dos olhos, no Centro de Congressos do Estoril. Para cimentar o novo velho normal, o rapper irlandês Rejjie Snow e a londrina Greentea Peng são porta-vozes de uma mensagem humanista, sensível, e atenta aos factos. Ele filho de pai nigeriano e mãe irlandesa de ascendência jamaicana. Ela filha de pai com ascendência iraquiana e mãe com raízes na ilha caribenha de Trindade e Tobago. Cidadãos do mundo ao serviço de uma transformação colectiva pela inclusão e empatia. Não pode haver limites quando o amor é troca sem moeda. Na segunda noite do festival, a aposta no hip-hop português é declarada e compreensível não só perante a multiplicidade de personagens e discursos surgidos ao longo da última década, como também pelo impacto dos mesmos. Um desses casos é Regula, embora por razões distintas. Veterano de guerras líricas, explodiu com os álbuns Gancho (2013) e Casca (2015) mas desapareceu do terreno nos últimos anos. O que se espera para 2022 é um regresso definitivo, a começar já no ID No Limits, para dar sequência a singles como Besta (O Teu Melhor Amigo), Futre e Júlio César.

Se “Don Gula” é quase um histórico, T-Rex, Lon3r Johnny e Sippinpurrp são figuras emergentes e acarinhadas por um público que já cresceu com redes sociais, streaming e rede móvel a ouvir hip-hop. São esses que diariamente dão mais sangue a este sangue novo, onde se cruzam esperanças, lamentos, barras pesadas e punchlines para emoldurar em png’s. E há mais. A poesia de rua viaja no caderno de apontamentos de Tristany entre Massamá e o Rossio – ele que até está entre os participantes do Festival da Canção com DJ Marfox e Pongo na endiabrada Dé.Gra.Dê -, enquanto Xtinto, figura próxima de Profjam, tal como Lon3r Johnny e Sippinpurrp, é mais um dos senhores que se seguem com rimas ágeis, abstratas ou realistas. Da Bridgetown vem DJ Dadda, autor da omnipresente Cafeína, uma primeira explosão local do afro-trap, que por certo não faltará no set. Ainda pelo condomínio do hip-hop português, Mike El Nite veste a pele de DJ para nos dar o que é bom para a tosse.

25 de fevereiro pode muito bem ser a noite de Pedro Mafama, um caso a dar que falar pela revisão histórica de símbolos da história de Portugal, nem sempre bem interpretados. Por Este Rio Abaixo inverte a grande viagem de Fausto Bordalo Dias e renova o fado lusitano com auto-tune, maquilhagem e camisolas da selecção. Podemos juntar-lhe entre o clã de renovadores a argentina radicada em Lisboa, Soluna, fortemente inspirada pela cultura latina, e Danykas DJ, uma rara produtora de afro-house a construir um nome a partir da subterraneidade, e um património na sua Seres Produções.

Antes de Covid, o corpo fraquejava ao terceiro dia. Alguém acredita em falta de combustível depois de tanto tempo em espera? Não dá para ficar parado e se sexta é um bom exercício de recapitulação de rimas, sábado o teste é para o corpo. Com inteira justiça, Branko encabeça a noite. Com sorte, escutaremos os primeiros sons de um prometido terceiro álbum. O próprio deve usar esta passagem pelo ID para pôr à prova o material inédito, e esperar por reacções a quente que minutos depois estarão nas histórias de Instagram. A fazer a festa estarão também os sul-africanos Major League DJz. Será uma das primeiras oportunidades para ouvir amapiano numa sala portuguesa. Quantos estão a par desta corrente transatlântica que junta kwaito e gqom, a deep house e jazz?

Depois há Shygirl e a desconstrução das regras heteronormativas em r&b arriscado, a alma londrina de Poppy Ajudah e o baterista Moses Boyd, autor de um sombrio Dark Matter que teria chegado fresco à edição de 2020. Ainda está a tempo de nos mostrar o lado negro da força. A selecção inglesa é de grande riqueza para esta última noite. Jamz Supernova, DJ da BBC, vem mostrar novas tendências, enquanto CKTRL, alter-ego do multi-instrumentista Bradley Miller, é dotado de hipersensibilidade neo-clássica capaz de fazer chorar os pilares de um centro comercial.

E de novo talento nacional, para brilhar e não apenas para preencher. Pedro Da Linha, requisitado produtor da Enchufada, autor do estonteante Da Linha, DJ Adamm e Bandicut para dar mais afro-house ao parágrafo. Do novo jazz português, Mazarin, Yakuza e os reminiscentes Who’s Puto, em busca de uma identidade própria.

É muita fome de concertos para matar e há mais. O jogo ainda vai a prolongamento na Cascais Silent Disco. Dia 24 com Progressivu e Peter Castro; na noite seguinte com Von Di e Rita Lig, e no encerramento do festival com M.Dusa e Zen Gxrl.

Bilhetes: https://www.seetickets.com/pt/event/id-no-limits-2022-cascais/centro-congressos-estoril/2128392 

 

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