2023: Mais, maior, grande

 

Entre 6 de junho e 18 de julho, o Passeio Marítimo de Algés irá receber concertos de The Weeknd, Maroon 5, a dupla Motley Crue e Def Leppard, e Harry Styles, além do NOS Alive. Todos eles produzidos pela Everything Is New. Acaso ou coincidência de datas? Nem por sombras. Trata-se não apenas da rentabilização de uma estrutura montada com antecedência para o festival, e portanto apta a receber outros espectáculos durante esse período, mas sobretudo e principalmente, de uma aposta em produçōes de grande investimento técnico, apelativas a multidōes.

 

Talvez seja a necessidade de reencontros em massa. Uma fome que 2022 não matou. Ou uma FOMO de presença, participação e partilha. E também é o reflexo de uma nova classe pop (The Weeknd, Harry Styles) formada na última década, assim como de um tempo em que o coração do rock perdeu a idade. Pais quinquagenários em concertos? Porque não. Já não choca ninguém. Em concertos rock, são a maioria.

 

Não é a primeira vez que a promotora tira partido do palco montado para o NOS Alive para além do festival. Fê-lo, por exemplo, em 2008 quando Leonard Cohen pregou Dance Me To The End of Love. Repetiu-o no passado com os Guns N’Roses, em junho. Nos últimos três anos, poucos foram os titãs pop que não deram música nova ao mundo. 2023, para já, é não só de reencontro com palcos como de digressōes de grande magnitude.

 

Além dos já citados, nos próximos meses contamos visitas dos Coldplay, com quatro noites esgotadas num pestanejar no Estádio de Coimbra entre 17 e 21 de maio, dos Rammstein ao Estádio da Luz a 26 de junho, de Björk ao Altice Arena a 1 de setembro ou de Madonna a 6 e 7 de novembro na mesma sala lisboeta. De todos se espera, não apenas um concerto, ou sequer um espectáculo, mas uma experiência de som e imagem, de grandes sensaçōes colectivas e partilhas amplificadores de emoçōes.

 

Apesar de Coldplay e Rammstein subirem ao palco em estádios, não é um regresso à era, aliás perdida, dos estádios. Nas décadas de 80, 90 e início dos 2000, foram muitas as produçōes a utilizar os estádios de Alvalade, Luz, Restelo ou Antas, dos Guns N’Roses a Michael Jackson, U2, Depeche Mode, Bon Jovi, Metallica, Bruce Springsteen ou GNR. Os tempos eram outros, as estrelas podiam não ser maiores mas eram mais transversais, a música bastava-se a si mesma para concentrar atençōes.

 

Hoje, o panorama é mais fragmentado e a música, embora mais consumida, tem uma influência menor mas, por outro lado, há uma cultura generalizada de ir a concertos e festivais que se alastra muito além dos hinos, refrōes ou solos. E isso, com singularidades caso a caso, ajuda a explicar o que está a acontecer em 2023. Resta saber se a inflacção das outras inflacções, reflectida na subida do preço dos bilhetes, terá influência nos números.