Festival Micro-Clima na SMUP – À margem de certa maneira
Na Parede, concelho de Cascais, há uma Sociedade diferente das outras. A SMUP, acrónimo de Sociedade Musical União Paredense, tem 123 anos com várias vidas dentro. Nasceu como banda filarmónica e, pouco depois, passou a ser também escola de música – até 1938 sem sede própria. Só então se iniciou a construção do edifício da colectividade. Após um hiato entre 1965 e 1980, o ensino da música e a orquestra foram reconstituídos, assim como o Teatro.
Em 2000, iniciou-se um longo processo de requalificação do edifício que obrigou a fechar portas entre 2008 e 2013. Nesse mesmo ano, iniciou-se um novo ciclo na programação cultural, com aposta declarada na “diversidade” e em áreas como “a música improvisada e experimental”.
É nessa SMUP atenta às margens dos grandes rios e com forte impacto na sua comunidade, mas com programação chamativa a público conhecedor, que acontece a quarta edição do Festival Micro Clima. Uma das raras salas na periferia de Lisboa onde o risco é uma profissão (exceptuando alguns auditórios e teatros públicos), assume o desejo de “dar palco a projetos embrionários lado a lado com outros de percurso já consolidado”. E o histórico está do seu lado com nomes tão diversos e reputados como B Fachada, Conjunto Corona, Ena Pá 2000 e Sensible Soccers a terem passado por edições anteriores.
E assim, já esta sexta-feira dia 1 de abril, o histórico Tito Paris, cabo-verdiano há muito radicado em Lisboa, coabita com Narciso, alter-ego das excentricidades pop de travo jazzístico de Vasco Narciso, e com o grupo defensor das mais sólidas fundações do rap Álcool Club. Para fechar a noite, David Moreira vai fazer uma viagem da Parede a Detroit ao som de “Ryan Elliot, Francesco Del Garda e Ron Trent”.
Na noite seguinte, volta a sobressair a diferença. Cat Falcão, a Monday das Golden Slumbers, tem canções orelhudas para quebrar o gelo. Segue-se Bone Slim, “conhecido pelas suas performances mascarado de dominó de marfim e rimas complexas”. Para que sábado à noite seja de febre, só falta Filipe Karlsson e o seu requiem pelo desassombro consumado, por exemplo, no EP “Teorias do Bem Estar”. Ainda há mais. A DJ King Kami, outrora DJ de Pedro Mafama, não é conhecida pela timidez ou decoro nas escolhas musicais. O funk, do Rio e não de James Brown, costuma fazer pingar muito suor na pista enquanto se mistura com “beats brega do Nordeste”. É melhor deixar o casaco à porta.
Em paralelo, há ainda uma instalação do artista visual e músico Luís Lázaro Matos, enquanto o espaço dos concertos é apropriado por dois dos membros da própria equipa, Mariana Tudela e Pedro Fernandes, que todos os anos preparam algo único para o Micro Clima.
O bilhete diário custa 15 euros e o passe 25 e podem comprar aqui: https://see.tickets/microclima2022
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