Cinco nomes para reconciliar com o novo velho rock

Já lhe passaram várias vezes a declaração de óbito mas o rock acaba sempre por se reerguer do chão. Na alvorada do século, a geração liderada pelos Strokes repescava os discos dos pais e revivia o punk, o pós-punk e a new wave. Vinte anos depois, o caso é mais sério e mete política. O Brexit é pedra para partir e do Reino Unido (ou será desunido?) chega protesto, activismo e catarse. Uma nova vaga de bandas fala dos problemas das comunidades e usa o rock como uma ignição para activar instintos, reacções e desejos de mudança. Os programadores estão atentos, e em 2022 vamos poder ver alguma desta juventude inquieta em Portugal. A começar já com os Idles.

Idles, Coliseu dos Recreios (11 de março) e Paredes de Coura (16 a 20 de agosto)

São a banda charneira deste movimento e talvez por isso, tenham pavor da “caricatura”, como justificava o vocalista Joe Talbot sobre a mudança de rumo no novo álbum Crawler. Fazem rock incendiário de fortes motivos políticos, e forçaram a corrente quando guitarras e contra-cultura andavam divorciados. Devem bastante, quer a Mark E. Smith, dos The Fall, quer a Nick Cave, de quem costumam visitar From Her To Eternity nos concertos. Nesse sentido, são uma consequência da memória de algum pós-punk, mas são também causa, por terem devolvido a possibilidade de uma banda rock ser relevante, expondo tensões e conflitos. Abriram um precedente. A seguir vieram os outros.

Black Midi, NOS Primavera Sound (10 de junho)

Nos Black Midi, a ideologia é sónica. Não são banda de refrões, ou formas convencionais. Quer o inaugural Schlagenheim (2019), quer o sucessor Cavalcade (2021), são um complexo tetris de guitarras matemáticas e secção rítmica livre de amarras. São comparados com frequência aos oligarcas do rock progressivo, King Crimson, e a outras referências como Talking Heads, Can ou Death Grips. Não são políticos, muito menos panfletários, mas exprimem inquietação e desalinho.

Dry Cleaning, NOS Primavera Sound (11 de junho)

Tal como os Idles, os Dry Cleaning já não são juniores. Após dois EPs promissores, a 4AD deu casa ao aclamado New Long Leg, álbum de estreia omnipresente nas tabelas de melhores álbuns de 2021 e nas escolhas de muitos melómanos. Num grupo de homens, a vocalista Florence Shaw dispensa o açúcar e é acre na sua expressão. Falada, mais do que cantada – um dos padrões desta corrente que atravessa o Canal da Mancha e faz estragos noutros territórios. Há um fio condutor, sim, mas com diferenças assinaláveis entre estas bandas.

Fontaines D.C., NOS Alive (6 de julho)

São irlandeses, de Dublin, falam de questões como a gentrificação, o desemprego e a precariedade. Para uma banda com cinco anos, revelam uma maturidade notável, personificada no carisma do vocalista Grian Chatten, e um percurso ascendente. Revelaram-se no inaugural Dogrel (2019), afirmaram-se em A Hero’s Death (2020) e em abril chegará Skinty Fia, apresentado pelos singles Jackie Down The Line e I Love You. Céus carregados de letras poéticas e ambientes soturnos.

Bilhetes NOS Alive: https://www.seetickets.pt/event/nos-alive-22-eur-/passeio-maritimo-de-alges/1573982

Bilhetes Paredes de Coura: https://www.seetickets.pt/event/vodafone-paredes-de-coura-2022/praia-fluvial-do-taboao/2025226