Ouvi dizer que o nosso amor regressou

Primeiro foram os Ornatos Violeta. Apesar de alguns outros regressos pontuais na música portuguesa como Sétima Legião, Mler Ife Dada, Taxi ou Jafumega, nenhum outro tinha tido semelhante importância como o da banda portuense em 2012. Dez anos depois de se terem retirado com quase tudo por fazer, e quando se aprestavam para preparar o terceiro álbum Monte Elvis.

Os Ornatos Violeta voltaram muito maiores do que eram. Na ausência, a adoração e o culto foram crescendo de forma orgânica e quase inexplicável. Ou não, se pensarmos no vazio deixado, nos escritos de Manel Cruz, na coesão sonora e, muito importante, na vitória de Filipe Pinto no Ídolos 2010, com Ouvi Dizer, o hino. Em 2012, os Ornatos Violeta consumaram o tão ansiado regresso com o roteiro a percorrer Paredes de Coura, e os coliseus de Lisboa, Porto e São Miguel para fazer a vontade a alguns milhares.

Por esta altura, já se percebeu que o regresso já passou a ser uma normalidade até quererem e passa única e exclusivamente por revisitar o passado. A caixa Inéditos e Raridades até abriu o cofre, mas daí não passaram. Por outro lado, de 2018 para cá, quando voltaram a propósito dos vinte anos de O Monstro Precisa de Amigos, têm-se visto pelo menos uma vez por ano, em festivais como o NOS Alive, o Kalorama ou o Coliseu Micaelense, assim como em salas e teatros.

Amigos de longa data, os Ornatos Violeta inspiraram os Da Weasel a ressuscitar, apesar de Manel Cruz não ter voltado à Casa onde fez de conta que acreditava no concerto do NOS Alive. O maior, dizem os números, alguma vez dado por uma banda portuguesa. Principalmente, se estivermos a olhar para a era dos festivais – os GNR, por exemplo, fizeram Alvalade e Antas, no auge da sua carreira.

Os Ornatos Violeta já tinham cometido a façanha de ser a primeira banda portuguesa cabeça de cartaz num festival internacional como é Paredes de Coura mas, em escala, o NOS Alive é bastante maior. Depois de dois anos de adiamento, as “doninhas” voltaram no ponto onde nos deixaram em 2009 antes de um hiato, seguido do inesperado anúncio do fim, quando ainda havia tanto por fazer.

Percebeu-se também que o investimento efectuado e o impacto obtido não seriam romance de uma só noite. Sem surpresa, os Da Weasel anunciaram este ano a continuação da onda nostálgica, desta vez no MEO Marés Vivas, em Gaia. Justificaram-no pela vontade de reencontrar o público do Norte. E ninguém ficará espantado se o passo seguinte for uma das maiores salas do país. Ou duas…

Como um castelo de cartas a cair, os D’ZRT não quiseram ficar atrás. E a vara voltou a subir, pelo menos a do público. Os bilhetes para o concerto de 29 de abril na Altice Arena voaram em poucas horas e uma segunda data foi anunciada, para 30 de abril, assim como uma visita ao Multiusos de Guimarães, a 6 de maio.

Neste momento, já são doze (!) as datas. 29 e 30 de abril, 1 e 2 de maio (Altice Arena, apenas restam bilhetes para a última das noites); 6 e 7 de maio no Multiusos de Guimarães; 19, 20 e 21 de maio na Super Bock Arena, no Porto; 27 de maio no Coliseu de Elvas; 3 de junho no Parque Santa Catarina na Madeira, e para fechar, 19 de agosto no Estádio do Algarve. A geração Morangos com Açúcar cresceu, já sai de casa sem perguntar aos pais e tem cartão de crédito.

Para mim tanto me faz

Já não vou voltar atrás

Não sofro mais, (não)

Não tenho tempo

 Antes dos D’ZRT, a “banda Morangos com Açúcar”, havia os Excesso. O quinteto formado por Carlos, Duck, Gonzo, João Portugal e Melão não pôde ver nada e decidiu também ir “Até ao Fim”. O reencontro está marcado para os dias 19 de maio e 17 de junho, datas em que regressarão aos palcos na Altice Arena, em Lisboa, e na Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, no Porto. Na segunda metade da década 90, foram o grande fenómeno adolescentel com o êxito Eu Sou Aquele. CD vendidos como pãezinhos quentes e muitas presenças em discotecas – o circuito de concertos ainda não tolerava facilmente estes formatos. Muito menos havia Reveges para vingar o passado.

Por falar em viagens no tempo, convém referir os Delfins, a banda portuguesa mais bem sucedida comercialmente nos 90, a era dourada da indústria, com regresso bem recebido no Rock In Rio. E também dos Entre Aspas, banda pop algarvia que preencheu a década de 90 com singles como Uma Pequena Flor ou Criatura da Noite, agora de volta para comemorar trinta anos do álbum de estreia.